É este um estado generalizado, corrente, de grande parte da sociedade: criticamos, mas, ao mesmo tempo, resignamos. A título de exemplo…
Recentemente a Câmara Municipal de Aveiro lançou um vídeo promocional do uso da bicicleta (realizado por Miguel Mendes, apresentado em Sevilha e divulgado no Youtube – busca por “Aveiro Lifecycle”), enquadrado no âmbito dos objectivos de um projecto europeu de mobilidade saudável – Life Cycle – do qual a autarquia aveirense foi parceira oficial (o projecto termina no próximo mês de Maio). Durante cerca de dois anos, a coordenação do projecto promoveu um conjunto de iniciativas, ao nível das escolas, das empresas, da universidade, da comunidade aveirense em geral, com o objectivo principal de promover o uso da bicicleta como modo saudável de mobilidade no quotidiano dos cidadãos. Um modo saudável que passa pela questão da saúde, da qualidade de vida, da mobilidade e da melhoria do espaço urbano. Um modo saudável que promovesse a bicicleta e a colocasse em equidade com o automóvel no que respeita à mobilidade e ao direito ao uso do espaço urbano, nomeadamente nas vias rodoviárias.
Mas a verdade é que a generalidade das pessoas acha isto um facto importante, em muitos casos uma necessidade e uma urgência. Muitos dos que visionaram o vídeo acharam-no espectacular, muito bom… mas continuamos a ver as ruas de Aveiro com carros, a não termos sítio onde estacionar, a não haver espaço para uma mobilidade sustentável e sustentada.
E o que fazemos? Muitos de nós aveirenses, onde por “mea culpa, me incluo.
Criticamos, com razão, a falta de espaços verdes, de lazer, espaços que permitam que as crianças aprendam a andar de bicicleta (quando antigamente o fazíamos na rua – hoje, não se brinca na rua). Afirmamos que Aveiro é uma cidade plana, amiga do ambiente, ciclável.
Mas somos igualmente capazes de encontrar insegurança onde, na prática, ela não existe ou é uma percepção errada da realidade. Quão inconscientes são os milhares de estrangeiros que já experimentaram andar de bicicleta na nossa cidade?
Esperamos por uma BUGA e desculpamo-nos com um sistema que espera novo relançamento de imagem quando, hoje, é tão simples ter bicicleta própria.
Desculpamo-nos com as condições climatéricas. Desculpamo-nos com as exigências do dia-a-dia, stressante, preenchido com inúmeros afazeres pessoais e profissionais.
No fundo, tudo serve, para mantermos o conformismo, a rotina, a apatia e a resignação.
Como diz o texto promocional “(…) existe aquilo que tu escolhes fazeres porque tudo na vida são opções (…). Aveiro escolheu a bicicleta”. E nós?!
Crónica de Miguel Araújo